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Viuvez não é doença, mas às vezes parece

Acolher. Ouvir.  Dar espaço.  Não falar.  Medir as palavras.  Dar suporte.

Reforçar que aquele sentimento é natural, justo, do viver… e dela. 

 

O estranho seria se a senhora não sofresse… 

Ao mesmo tempo, o olho clínico permanece sempre atento a detalhes passíveis de qualquer forma de ajuda.  Viuvez não é doença, mas às vezes parece que sim – muito pior do que se pensa. 

É mais ou menos assim uma consulta, após uma senhora se tornar viúva. É a ficha que cai. A lembrança que não sai. Às vezes o que a traz é a falta de sono ou de apetite, ou a vontade de não sair de casa nunca mais. O tempo entre o velório e a consulta varia um pouco, de dias a um, dois, vários anos. É o tempo de cada uma. Daquelas que sofreram por mais tempo, cuidando dos seus amados acamados, podemos até esperar uma melhor reação.. mas há regra? Não. Das com melhor suporte social, o recomeço é para vir ao natural.

Uma vez, uma senhora, espírita, me contou o que fez para melhorar. Não se continha. Resolveu, então, escrever cartas para o marido que se foi. Não era uma obsessão, foram poucos os recados. O efeito positivo veio logo. Organizou o turbilhão que andava sua mente. Na época, também não me contive e pesquisei sobre esse recurso. Encontrei muitas coisas já em uso. Teorias, pesquisas…escrita terapêutica foi o termo que mais apareceu. O benefício dessa prática tem a ver com a expressão afetiva, com a organização das ideias. Só o silêncio, a solidão e a caneta possibilitam. Parece que faz muito bem… é pouco relacionado com o envio em si da mensagem para outra dimensão, para o além. Tenho recomendado para viúvas nos últimos anos. Umas até me entregaram os envelopes, não para que eu lesse qualquer coisa, mas para colocá-los fora mesmo… Mas a maioria só me relatou... doutor, sim, ajudou.

É assim, sem pressa. Sem muita orientação. Sem a obrigação do remédio. 

Ajudar a conviver com a lembrança, com a nova forma de presença.

Às vezes, é fácil. Mulheres são fortes, e os corações enormes.

Eu nunca imaginei que houvesse no mundo

Um amor desse jeito

Do tipo que quando se tem não se sabe

Se cabe no peito

Mas eu posso dizer que sei o que é ter

Um amor de verdade

E um amor assim eu sei que é pra sempre

É pra eternidade

(Amor sem limite – Roberto Carlos)

Dr. Leandro Minozzo - CRM 32053
Mestre em Educação - Clínico Geral - Especialização em Geriatria pela PUCRS
Pós-graduado em Nutrologia pela ABRAN