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A dor crônica na terceira idade

O Brasil tem observado um crescente aumento na população de indivíduos com mais de 60 anos, e isso é de conhecimento de todos.

Uma parcela da população em geral sofre de dor crônica diariamente. A dor acomete pessoas de ambos os sexos, todas as idades e classes sociais. Nestes casos a dor é um sinal de que algo não está bem.

A Escala Visual Analógica – EVA consiste em auxiliar na aferição da intensidade da dor no paciente, é um instrumento importante para verificarmos a evolução do paciente durante o tratamento e mesmo a cada atendimento, de maneira mais fidedigna. Também é útil para podermos analisar se o tratamento está sendo efetivo, quais procedimentos têm surtido melhores resultados, assim como se há alguma deficiência no tratamento, de acordo com o grau de melhora ou piora da dor. A EVA pode ser utilizada no início e no final de cada atendimento, registrando o resultado sempre na evolução. Para utilizar a EVA o atendente deve questionar o paciente quanto ao seu grau de dor sendo que 0 significa ausência total de dor e 10 o nível de dor máxima suportável pelo paciente.

A dor na terceira idade não é diferente

A dor na terceira idade causa um sofrimento contínuo que muitas vezes não é valorizado por familiares, cuidadores ou até mesmo pelo próprio idoso que acha, muitas vezes, “normal” ter dor na sua idade.

Ninguém consegue  conviver com dor, independentemente da intensidade, diariamente e por longo tempo sem sofrer consequências.

Depressão, sensação de inutilidade e desesperança, sintomas depressivos, distúrbios no sono, diminuição da autonomia nos afazeres do dia a dia, indisposição para sair de casa ou até da cama pela manhã, indisposição para se relacionar ou até de conversar com familiares, fuga de eventos sociais, entre outros.

Muitas pessoas acham que a dor é uma consequência natural do envelhecimento e isso faz com que o tratamento da dor não receba a devida atenção e muitas vezes a dor não seja diagnosticada e, pior, diagnosticada e mesmo assim subtratada.

As causas mais comuns de dor na terceira idade são:

- Osteoartrose: são os problemas ósseos e articulares de causas degenerativas ou traumáticas

- Doença Vascular Periférica: problemas relacionados à circulação

- Neuropatia Diabética: dores causadas pela Diabetes que evoluem cronicamente

- Neuralgia Pós-Herpética: dor causada por sequela de infecção viral com maior incidência no idoso

- Dor no Membro Fantasma: pessoas submetidas a amputação de membros que permanecem com dor crônica no membro, mesmo após a cirurgia

- Neoplasias: dor crônica causada pela ocorrência de câncer que pode ter origem em distintos órgãos

- Acidente Vascular Cerebral: dor após AVC e contratura dos membros

Observadas essas possibilidades, fica óbvio que uma Atenção Global da Dor no Idoso possibilita reduzir o sofrimento do idoso e da família e assim reduzir o nível de dependência deste idoso para as atividades do dia a dia e melhoras na qualidade de vida e convivência familiar.

A avaliação da dor no idoso

O grande desafio é quantificar a dor e, a partir daí, fazer o diagnóstico da causa-base da dor. 

O desafio de justifica porque é muito mais difícil a avaliação clínica em um paciente idoso que em um paciente jovem. Lembre-se que muitas vezes o idoso tem problemas de memória, problemas de linguagem, problemas de atenção, sequelas neurológicas que, mesmo não diretamente relacionados com a dor, dificultam a relação entre o paciente e seu médico. Muitos estão depressivos e não querem conversar com ninguém sobre suas dores e angústias.

A aplicação de algumas escalas simples durante a consulta permite a quantificação da dor no idoso. Acima se observam exemplos de tal tabela:

Assim, as perguntas realizadas na anamnese e durante exame físico e, posteriormente, os exames complementares permitem o tratamento medicamentoso correto para cada paciente e, após, se indicado, intervenções não farmacológicas.

Devemos ainda lembrar algumas situações:

- cada dor é única e deve ser valorizada

- cada pessoa tem uma reação à dor

- a pessoa com dor crônica costuma ficar insegura e regressiva

- a crença de que medicação faz mal e ter que tomar medicação e sinal de fraqueza está errada e não deve ser estimulada

- não se deve conviver com o problema da dor crônica, deve-se buscar solução ou alivio através de tratamentos medicamentosos, psicológicos, fisioterápicos, etc.

Em resumo, a base terapêutica da dor na terceira idade visa o tratamento da dor propriamente dita e a normalização do estado clínico geral dentro das possibilidades de cada paciente. Trata-se a causa específica da dor, reduz-se a perda das funções do dia a dia, melhora-se o sono, o humor e o convívio social. Melhora-se a vida.

Dr. André Ricardo Stüker - CRM-RS 24.687
Médico Anestesiologista - Especialista em Tratamento da dor